12 de julho de 2010

O Fim?

 
Saiu de manhã, sem destino. Fez-se à estrada sem saber onde ia. Contentou-se em seguir o caminho que a vontade lhe ia ditando. Deu por si numa praia, afinal o caminho era o que tantas vezes tinha feito. Inconscientemente, tinha seguido a estrada que lhe era mais familiar, como se fosse o carro que conhecesse o caminho e ela apenas se limitasse a girar o volante, acelerar e travar, ao sabor da vontade da máquina. No parque de estacionamento deserto, na falésia em frente à praia que tão bem conhecia, parou. Deixou-se ficar dentro do carro, cruzou os braços no volante e pousou o queixo nas mãos. Ficou assim, a olhar o mar, as ondas que rebentavam nas rochas, as gaivotas que revolteavam no céu, por entre as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. E pensou em tudo o que lhe acontecera e a trouxera até àquele momento. Como pudera ter sido tão ingénua? Como pudera ter ido contra todos os seus instintos? Se desde o início sabia, tinha a certeza no seu íntimo, que dali nada de bom poderia vir. E ainda assim deixara-se levar pelo coração, ignorando a razão, os amigos, a família. Acreditara, quisera acreditar, que todos estavam errados, que tudo iria correr bem. Acabara por se afastar de todos por não conseguirem vê-lo como ela o via. Agora que tudo acabara, estava só. Não tinha com quem falar, em quem confiar, nem sabia se conseguiria voltar a confiar em alguém. Sentia-se num beco sem saída, sem saber para onde se virar, sem qualquer objectivo na vida e, principalmente, sem coragem para voltar atrás e procurar ajuda. Deixara de ter uma razão para viver. E decidiu, ainda que não tivesse essa ideia quando saíra de casa umas horas antes, que o seu sofrimento acabava ali, naquele momento. Ligou o carro, olhou uma última vez o mar, as ondas, as rochas e as gaivotas...

12 comentários:

afectado disse...

por vezes não se vislumbra saída alguma para o sofrimento...

contudo é preciso muita coragem (e desespero) para decidir olhar o mar pela última vez.

afectado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tulipa Negra disse...

Por vezes a linha que separa a coragem do desespero é muito ténue.
Beijinhos

Rafeiro Perfumado disse...

Só não consigo compreender como é que com os braços cruzados ela consegue poisar o queixo nas mãos...

Tulipa Negra disse...

Rafeiro, é muito simples: ela é contorcionista no circo Chen.

Vício disse...

acho piada quando leio/ouço a expressão "deixou de ter uma razão para viver" quando se trata de outra pessoa!
e que tal encontrar essa razão em si?

Tulipa Negra disse...

Vício, tens razão, mas às vezes a primeira sensação é mesmo essa. (Tu hoje estás muito irritado...)
Beijinhos

viajanteintemporal disse...

Só falta incluir na parte final o nascimento de outra mulher, a metamorforse perfeita!E a borboleta voo bem alto. beijinhos

Tulipa Negra disse...

viajanteintemporal, esse final é bem mais bonito, sem dúvida. :)
Beijinhos

o barqueiro do Sarre disse...

... engrenou a marcha atrás e deu meia volta ao carro: o sofrimento tinha acabado, estava decidido, a partir daquele momento iria viver uma nova vida.
A insistência no erro a que o coração a conduzira tinha-a deixado isolada, o orgulho era demasiado para pedir ajuda a quem ela ignorara durante todo aquele tempo. Naquele momento percebeu o erro - não aquele a que o coração a conduzira, mas um outro, pior, o de pensar que a felicidade está noutra pessoa, o de pensar que a ajuda vem de fora para dentro; naquele momento, naquele fim de dia à beira do abismo, a brisa fresca que servia de sustento às gaivotas despertou-a para a realidade.
Agora, luzes acesas, vidros abertos apesar do frio do início da noite, dirigia-se para casa mostrando um sorriso por detrás dos cabelos desalinhados pelo vento e dizendo em voz alta: "Eu sei que vou ser feliz!"

o barqueiro do Sarre disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Tulipa Negra disse...

barqueiro do Sarre, é mais por aí, sim. Ninguém disse que ela se matava.
Beijinhos