31 de outubro de 2010

Diz que hoje é Halloween

Cuidado!
 Elas andam aí...

30 de outubro de 2010

Saturday Night

29 de outubro de 2010

A melhor prenda

Não é material. Não é um carro, uma casa, uma viagem a um lugar paradisíaco. Não é sequer um par de sapatos, aquele vestido ou uma jóia. A melhor prenda é poder passar o dia rodeada das pessoas de quem mais gosto no mundo. São as mensagens de todos os outros, que por estarem longe não podem estar comigo fisicamente. E, claro, é a surpresa de perceber que mesmo aqueles que mal "conheço", se dão ao trabalho de me deixar uma mensagem simpática.

28 de outubro de 2010

Oktoberfest

É hoje.

27 de outubro de 2010

Luxos

Almoçar em casa, uma refeição preparada pela mãe, na companhia dos pais e do marido, num dia de semana. E depois não trabalhar de tarde.

26 de outubro de 2010

Relatividade

urgente
adjectivo uniforme

1. que urge; que não admite delongas
2. iminente
3. indispensável

(Do lat. urgente-, «id.», part. pres. de urgére, «apertar; urgir»)

em http://www.infopedia.pt/


O que é urgente ou não? O que constitui uma urgência? E quem decide? O que para uns é urgente, indispensável, tem de ser resolvido de imediato, para outros pode esperar dias, semanas, anos, até. Tudo depende da perspectiva. Obviamente que o facto de outra pessoa precisar de usar a casa de banho para mim não é urgente, mas imagino que para a pessoa possa ser. Agora quem tem o direito de me dizer que aquilo que eu considero urgente não o é? Quem? A que propósito? Quem lhe deu essa autoridade? Como é que me respondem que agora não pode ser porque estão em greve, que se pode prolongar até 8 semanas (!!), portanto que ligue quando terminar a greve para resolver o assunto, porque de momento só tratam de urgências? COMO? E o meu assunto não é urgente porquê? Para mim é, e muito!

P**a que os p***u a todos.

25 de outubro de 2010

Estrangeiro e estranho # 2


Zezé: O gajo era romancionista.
Tóni: Arrumava carros? Toxico-independente?
Zezé: Romancionista! Escrevia poemas!

A comunicação é essencial entre as pessoas, mas por vezes é dificultada por vários factores. Algumas línguas têm expressões muito úteis que descrevem essas situações específicas. Na Indonésia, por exemplo, suponho que seja complicado conviver com quem sofre de latah, o hábito incontrolável de dizer coisas embaraçosas (não confundir com lata em português que significa, basicamente, descaramento). Além disso, começo a achar que os indonésios não devem ser muito educados, se têm uma palavra específica para quem interrompe sem pedir desculpa: nyelonong. Piores do que os indonésios, só os falantes das línguas Inuit (vulgo, Esquimós), que até têm uma palavra para quem nunca responde: akkisuitok.

Já na China, terra com tantos milhões de habitantes, é natural que alguns toquem alaúde a uma vaca (dui niu tanqin - parece que é no sentido de falar por cima de outra pessoa ou dirigir-se ao público errado). Mais estranho é que haja quem hesite e murmure sozinho (chenyin), mas imagino que com tanta gente à volta seja a única forma de conseguirem ouvir os próprios pensamentos.

Os turcos, por seu lado, têm a expressão catra patra que designa o acto de falar uma língua incorrectamente, como os nossos Tóni e Zéze ou alguém que está a aprender a língua. E quando estamos a falar uma língua que não conhecemos bem, temos tendência para, além de falar mais alto, responder sim a tudo, especialmente se não percebemos o que nos disseram. Chama-se a isso, em russo, dakat'.

Eu nunca estive nas Ilhas Cook, mas desconfio que por lá deve haver muita coscuvilhice entre os Maori. É a única explicação para a existência da palavra 'o'onitua, que significa falar mal de alguém na sua ausência. Na Jamaica, terra conhecida por ser bem mais descontraída tendo em conta vários produtos naturais que por lá usam e abusam, a mesma palavra em patois serve para coscuvilhice e anedotas ou canções e memórias nostálgicas da escola: labrish.

E como por esta semana a lição já vai longa, despeço-me na língua do vulcão que nos atazanou a vida este Verão:  

bless!

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.

24 de outubro de 2010

Para vossa segurança

23 de outubro de 2010

Pagar para poder... pagar!

Contribuinte: Gostava de comprar um carro.
Estado: Muito bem. Faça o favor de escolher.
Contribuinte: Já escolhi. Tenho que pagar alguma coisa?
Estado: Sim. Imposto sobre Automóveis (ISV) e Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).
Contribuinte: Ah... Só isso.
Estado: E uma coisinha para o pôr a circular: o selo.
Contribuinte: Ah!..
Estado: E mais uma coisinha na gasolina necessária para que o carro efectivamente circule. O ISP.
Contribuinte: Mas... sem gasolina eu não circulo.
Estado: Eu sei.
Contribuinte: Mas eu já pago para circular...
Estado: Claro!
Contribuinte: Então... vai cobrar-me pelo valor da gasolina?
Estado: Também. Mas isso é o IVA. O ISP é uma coisa diferente.
Contribuinte: Diferente?!
Estado: Muito. O ISP é porque a gasolina existe.
Contribuinte: Porque existe?!
Estado: Há muitos milhões de anos os dinossauros e o carvão fizeram petróleo. E você paga.
Contribuinte: ... Só isso?
Estado: Só. Mas não julgue que pode deixar o carro assim como quer.
Contribuinte: Como assim?!
Estado: Tem que pagar para o estacionar.
Contribuinte: Para o estacionar?
Estado: Exacto.
Contribuinte: Portanto, pago para andar e pago para estar parado?
Estado: Não. Se quiser mesmo andar com o carro precisa de pagar seguro.
Contribuinte: Então, pago para circular, pago para poder circular e pago por estar parado.
Estado: Sim. Nós não estamos aqui para enganar ninguém. O carro é novo?
Contribuinte: Novo?
Estado: É que se não for novo tem que pagar para vermos se ele está em condições de andar por aí.
Contribuinte: Pago para você ver se pode cobrar?
Estado: Claro. Acha que isso é de borla? Só há mais uma coisinha...
Contribuinte: Mais uma coisinha?
Estado: Para circular em auto-estradas...
Contribuinte: Mas... mas eu já pago imposto de circulação.
Estado: Pois. Mas esta é uma circulação diferente.
Contribuinte: Diferente?
Estado: Sim. Muito diferente. É só para quem quiser.
Contribuinte: Só mais isso?
Estado: Sim. Só mais isso.
Contribuinte: E acabou?
Estado: Sim. Depois de pagar os 25 euros, acabou.
Contribuinte: Quais 25 euros?!
Estado: Os 25 euros que tem de pagar para andar nas auto-estradas.
Contribuinte: Mas não disse que as auto-estradas eram só para quem quisesse?
Estado: Sim. Mas todos pagam os 25 euros.
Contribuinte: Quais 25 euros?
Estado: Os 25 euros é quanto custa o chip.
Contribuinte: ... Custa o quê?
Estado: Pagar o chip. Para poder pagar.
Contribuinte: Não percebi...
Estado: Sim. Pagar custa 25 euros.
Contribuinte: Pagar custa 25 euros?
Estado: Sim. Paga 25 euros para pagar.
Contribuinte: Mas eu não vou circular nas auto-estradas.
Estado: Imagine que um dia quer? Tem que pagar.
Contribuinte: Tenho que pagar para pagar porque um dia posso querer?
Estado: Exactamente. Você paga para pagar o que um dia pode querer.
Contribuinte: E se eu não quiser?
Estado: Paga multa!

recebido por e-mail

22 de outubro de 2010

Ansiedade

Imagino situações, diálogos, pessoas, tenho o mau hábito de fantasiar que aquilo que imagino pode ser real. Mas como nem sempre o que imagino é agradável, dou por mim a viver estados de ansiedade que muitas vezes não são justificados. Ouvi dizer que não vale a pena sofrer por antecipação. É verdade que não, mas eu não consigo fazê-lo de outra forma – e invejo quem consegue, confesso. Nessas alturas preciso de ficar sozinha, sem ter de falar com ninguém, até porque tudo o que me possam dizer serve apenas de motivo de discussão, de veículo para descarregar a tensão acumulada. Chego ao fim do dia cansada mas, olhando para trás, não consigo vislumbrar nada de útil que tenha feito. A concentração voou para longe, não há nada que me prenda a atenção e a ansiedade prolonga-se pela noite dentro e tira-me o sono, acorda-me de madrugada e não me deixa dormir mais. Enquanto aquilo que imagino não se resolve, não tem uma conclusão, seja positiva ou negativa, não descanso. Tenho medo de ter esperança. Porque sempre que a tenho, sempre que acredito que desta vez é que vai ser, que tudo vai correr bem... tenho desilusões. Daquelas grandes, de me deixar de rastos durante dias e dias, sem conseguir fazer nada, pensar em nada... Não consigo ser paciente e ter calma e cabeça fria, ou morna sequer, e preciso de resolver tudo, logo. Irrito-me por tudo e por nada, sem motivo, com a pessoa errada, porque quando quero alguma coisa quero mesmo, com força, com todas as minhas forças, que às vezes são tão poucas! Talvez deseje o impossível.

E as lágrimas caem pelo rosto, incontroláveis.

21 de outubro de 2010

Já começa

8h da manhã
Temperatura dentro da garagem: 15,5ºC
Temperatura exterior: 1ºC

7h da manhã, no Funchal (menos uma hora do que aqui)
Temperatura exterior: 21ºC

...
...

Falta muito para o Verão?

20 de outubro de 2010

3 minutos e 15 segundos

É o tempo que separa a possibilidade de felicidade extrema da mais profunda tristeza.

Medos

Do futuro. Do que poderá ser, do que poderá não ser, do desconhecido, sobretudo. Medo de que os desejos não se concretizem, mas principalmente do contrário. Porque não se realizando os desejos, é fácil viver. Estou habituada a viver sendo os desejos apenas isso mesmo, desejos. E um não é sempre certo, pode até doer mas é confortável. Ao fim de um tempo, volto à vidinha de sempre e, afinal, nada mudou, tudo continua igual. O contrário é assustador. A possibilidade de se concretizar um desejo aterroriza-me. Porque se o desejo o é realmente, é de tal forma ansiado que tenho até medo do que virá a seguir. Be careful what you wish for, dizem os americanos com razão. Concretizando-se esse desejo, especificamente, nada será como antes. Tudo mudará, de um dia para o outro. Espero sempre que mude para melhor, porque para pior antes assim, mas a verdade é que não o sei. Não tenho a certeza. E assusta-me. Muito.

19 de outubro de 2010

Hoje

Não sai nada de jeito desta cabeça. Ou antes, há qualquer coisa que não me sai da cabeça e me impede de fazer seja o que for. Assim sendo, mais vale ficar quietinha no meu canto.
Pode ser que amanhã seja melhor.

18 de outubro de 2010

Estrangeiro e estranho # 1

 You had me at "Hello".

Nada como começar pelo início. Uma das palavras mais úteis e das primeiras a aprender numa língua estrangeira é, claro está, a forma de cumprimento. Um "olá" ou "bom dia" bastam, em português. Mas nem sempre é assim.

Se forem ao Senegal não se admirem de ouvir um simples aa (Diola), mas na Rússia podem ser surpreendidos por um khaumykhyghyz (Bashkir). Já na Serra Leoa, podem pensar que finalmente encontraram o Wally quando ouvirem wali-wali, mas é apanas uma forma de cumprimento. E no Canadá não voltou a moda do iô-iô, que se saiba, mas é natural ser saudado com um yoyo (tribos Kwakiutl). Já no Sri Lanka a economia de palavras ditou que se use ayubowan para bom dia, boa tarde, boa noite e adeus. Nada que os italianos não façam também com ciao, que tanto significa olá como adeus. É tão simples. Para quê complicar?

Para começar, chega. E agora vou-me embora sem dizer a ninguém onde vou, como fazem os índigenas Wagiman da Austrália:
Allahaismarladik

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.

Porque hoje é segunda-feira

"Quem aprende uma nova língua, adquire uma alma nova"
Juan Ramón Jiménez

A partir de hoje, e enquanto me apetecer, a segunda-feira passa a ser dia de aprender coisas novas, em estrangeiro. Esqueçam o inglês ou o francês, a não ser que o caso seja tão excepcional que se justifique. Estou a falar de línguas estrangeiras e estranhas, daquelas que pouca gente fala, pelo menos em Portugal. E a que propósito vem isto? Ora bem, primeiro porque a segunda-feira é sempre "aquele" dia e, portanto, é preciso tentar animar o tasco. Segundo, porque me lembrei que tenho ali na estante um livro delicioso precisamente sobre este assunto. Assim, e sem qualquer tipo de pudor, decidi inspirar-me e publicar aqui algumas dessas palavras. Aproveitem e aprendam qualquer coisinha.

17 de outubro de 2010

Mais do mesmo... mais chato!

***Spolier alert! ***

"The secret is how to die."
I'd say, the secret is how to create an interesting story...

Acabei finalmente de ler The Lost Symbol (ou o Código Da Vinci 3, como é conhecido cá por casa). Tinha lido as outras duas aventuras de Robert Langdon e confesso que tinha gostado. Não sendo obras-primas da literatura, cumprem aquilo a que se propõem: entreter o leitor, criar um mistério que o prende até às últimas linhas, cheio de reviravoltas inesperadas... Enfim, dentro do género em que se encaixam, considerei na altura que eram até bons livros. Lembro-me de ficar agarrada à história e de não conseguir pousar os livros enquanto não os terminei. As polémicas com o Vaticano foram, a meu ver, acessórios que em muito contribuíram para aumentar as vendas - assim uma espécie de estratégia de marketing bem montada.

Por tudo isto, esperava que este novo episódio fosse, pelo menos, tão interessante como os dois anteriores. Pois não é. A história até começa bem, o mistério está bem construído, mas rapidamente se torna tão maçador que a certa altura dei por mim a pensar se ainda faltaria muito para acabar. As soluções dos códigos que vão surgindo, e que nos outros livros eram dos aspectos mais intrigantes e engraçados de resolver, são em alguns casos de tal forma óbvias que não sei como Robert Langdon, supostamente especialista na coisa, demora quase vinte páginas para as perceber. Isto para já não falar de algumas soluções que o autor encontrou para outras situações. Refiro-me, por exemplo, à morte de uma personagem importante que mais tarde reaparece, assim uma espécie de Lázaro ressuscitado. A explicação até pode ter bases científicas, não faço ideia porque não me informei sobre isso, agora que é rebuscada, disso não tenho dúvidas.

Já não me lembrava de um livro do género policial/mistério que me aborrecesse tanto, ao ponto de ser quase um sacrifício terminar de o ler. Decepcionante, é o adjectivo que procurava. Espero que o filme seja mais interessante...

16 de outubro de 2010

Económico e ecológico

15 de outubro de 2010

Problemas com o PC? Envia-me um e-mail!

Ora diz que o serviço de Helpdesk aqui da tasca agora se chama Service Desk. À partida, parece-me um nome até bastante mais adequado, tendo em conta que ajudar, de facto, pouco ajudavam. Pode ser que sirvam, vamos lá ver. A acompanhar a mudança de designação, veio também um novo número de telefone e um novo endereço de e-mail. Até aqui, tudo normal. O que o povinho começou a estranhar foi que, de cada vez que lhes telefonava por ter um problema qualquer com o PC (e não são tão poucas vezes quanto isso, infelizmente) atendia uma gravação pedindo para deixar mensagem que eles depois ligavam.

Pois bem, recebemos hoje as novas instruções sobre como comunicar com estes senhores. Agora, quando precisarmos de ajuda informática, temos de lhes enviar um e-mail. Aí está uma boa forma de garantir que diminuem o número de incidentes.

14 de outubro de 2010

Finalmente, a verdade!

Tirado daqui.

Afinal há milagres

Mas são os homens que os fazem.


Foto tirada do Sapo

Venha o filme de Hollywood!

13 de outubro de 2010

The SMS that made my day

Estou a atravessar o frio implacável para correr para o calor dos teus braços.

12 de outubro de 2010

Imagens de Outono





Afinal, nem tudo é mau por aqui...

11 de outubro de 2010

Alucinações

Encontro-me numa praia deserta, paradisíaca. O sol alto aquece-me a pele, o mar azul-turquesa ao fundo confunde-se com o céu no horizonte. As palmeiras proporcionam-me a sombra necessária. Ao meu lado, uma mesa onde está pousado um copo alto com uma bebida colorida enfeitado com um pedaço de ananás e um chapelinho de papel. Estou de férias, penso. Fecho os olhos e sorrio, feliz.

Inesperadamente, ao som do mar sobrepõe-se um ruído muito forte, um estrondo que se prolonga durante alguns segundos. Abro os olhos e vejo um clarão ao longe, em tons amarelos e vermelhos, uma chama que atinge a altura de vários arranha-céus. Sinto uma onda de choque que me atira ao chão de pedra e faz estremecer tudo à minha volta. Já não estou na praia e não percebo o que se passa. Levanto-me e começo a andar na direcção da luz, agora azulada, desviando-me de outras pessoas e dos carros que travam a fundo e buzinam, num súbito caos.

Consigo finalmente aproximar-me e vejo que a luz diminuiu de intensidade e de tamanho. Sem saber como, chego muito perto e estou afinal em casa, a olhar para dentro do forno cuja luz está acesa e onde vejo um bolo a cozer. Toca uma campainha, indicando que o bolo está pronto. Abro o forno, tiro a forma sem usar pegas nem qualquer espécie de protecção, mas não me queimo, e olho incrédula para as minhas mãos, imaculadas.

Não sei onde pus a forma, mas as minhas mãos, agora vazias, parecem-me gigantes. Sou tão pequenina! Tenho apenas cinco anos, estou na rua a brincar com outras crianças da minha idade. A minha avó chama-me, à janela: são horas de jantar. Olho e vejo-a sorrir.

Subo apressada as escadas do prédio onde moro e entro numa sala que não reconheço. Paredes e chão em metal, uma luz fria proveniente das lâmpadas fluorescentes do tecto alto, macas de hospital encostadas às paredes e, ao fundo, uma mesa enorme cheia de instrumentos cirúrgicos. Sou novamente adulta e estou assustada. Abre-se uma porta que até aí não tinha visto, na parede do lado direito. Oiço uma voz gritar, enérgica "Goooooood Morning, Vietnaaaaaam!" ao mesmo tempo que entra na sala o E.T. com um vestido de menina e um chapéu enfeitado com frutas e flores.

Sinto um cheiro intenso a pinho. Olho em volta. Estou no meio de um pinhal imenso, árvores de copas gigantes, a caruma pica-me os pés descalços. Oiço música a tocar mas não identifico de onde vem. Resolvo seguir o urso que me acena e sorri, mostrando-me um pote de mel enquanto se afasta na direcção de uma clareira. Quatro músicos tocam uma melodia alegre. Ao aproximar-me, vejo que não são humanos: um tigre, um elefante, um golfinho e o urso. Acho estranho encontrar ali um golfinho, que se oferece para me dar boleia assim que terminar o espectáculo, falando numa língua que não conheço, mas compreendo.

Aceito. Levantamos voo quase de imediato, uma hospedeira oferece-me uma lata de feijão, um copo de água e um livro. Começo a ler as páginas em branco, mas percebo a história que me envolve de uma forma pouco habitual. Deitada na minha cama, tapada com o edredão porque é Inverno e está frio, viro as páginas enquanto como bolachas de chocolate e carrego no acelerador.

A estrada está deserta, conduzo um carro que não é meu e onde sigo sem companhia. Acelero cada vez mais, atinjo uma velocidade que me parece irreal, deveria estar a voar! Oiço a sirene do carro da polícia que me persegue, não conseguindo contudo acompanhar-me. Ao meu lado, no lugar do morto, o Calimero, de casca de ovo na cabeça, queixa-se continuamente. Perco a paciência, abro a porta e empurro-o para fora com o carro em andamento. Oiço apenas um grito cada vez mais afastado. Buzino em resposta. Volto a buzinar, uma e outra vez, e mais outra e ainda outra. Estou a ficar com dores de cabeça mas não paro de buzinar.

Abro os olhos. Encontro-me numa praia deserta, paradisíaca…

9 de outubro de 2010

8 de outubro de 2010

O banco de jardim

(Fotografia de FJPR em Olhares.com)

A meio da subida, na berma da estrada, há um banco de jardim (ainda se chamará banco de jardim não estando num jardim?). Vi-o hoje pela primeira vez, nunca antes tinha reparado nele apesar de ali passar todos os dias, duas vezes por dia. Nunca lá vi ninguém sentado, também. Suponho que é possível que alguém se lá sente, de outra forma não passa de um banco de jardim na berma da estrada, sem qualquer utilidade. E se não tem utilidade, para quê existir? Um objecto tem uma utilidade definida, foi criado com um propósito e quando não o serve, quando deixa de nos servir, torna-se inútil, portanto supérfluo, e logo deixa de ter razão de existir.

Sempre achei os bancos de jardim tristes, quando vazios. Como se estivessem incompletos sem alguém lá sentado, como se lhes faltasse uma parte da sua essência. Como se o velho que ali descansa os ossos por uns minutos antes de continuar o seu caminho vagaroso ou o casal de namorados que se beija apaixonadamente lhe conferissem toda a razão da sua existência. Servir. É para isso que existem os bancos de jardim. Para proporcionar uns minutos de descanso à sombra das árvores num dia quente de Verão, para dar dois dedos de conversa com um amigo, para ler um livro, para esperar alguém que teima em chegar sempre atrasado.

Tal como as pessoas que vamos encontrando ao longo da vida. Também elas têm um propósito, uma razão de existir, que é diferente para cada um. Aquela pessoa, por exemplo, que para mim não passa de um conhecido com quem troco uns cumprimentos por obrigação mais do que por prazer, para alguém será certamente muito mais importante: pai, marido, irmão, filho… Certas pessoas têm uma utilidade limitada no tempo, uma espécie de prazo de validade. Entram na nossa vida no momento certo, cumprem determinada função essencial, ajudam-nos a crescer e a evoluir - mesmo aquelas de quem não gostamos ou que nos fazem mal. E quando deixam de nos servir, quando já não nos fazem falta, quando começam a apodrecer, desaparecem. Simplesmente. E é assim que deve ser. Sempre.

Por mais que os bancos de jardim pareçam tristes quando estão vazios.

7 de outubro de 2010

Dois segundos

Dois segundos de distracção são o suficiente. Dois segundos em que a atenção se desvia do importante para o acessório, em que os olhos são atraídos por um qualquer movimento e, inconscientemente, aí se concentram. Dois segundos, não mais. Nesse período de tempo, aparentemente curto, tudo pode acontecer.

A criança, dos seus dois anos, talvez, caracóis loiros, olhos azuis, chupeta na boca, peluche na mão, linda de morrer, na ingenuidade e inocência naturais da idade, seguiu quem pensou ser a mãe. Aos seus olhos, os adultos parecem todos iguais e no meio da multidão é tão fácil confundi-los. A mulher que a criança seguiu estava vestida como a mãe, com uns jeans e umas sabrinas nos pés - os únicos elementos que a menina conseguia ver por estarem ao nível dos seus olhos. Mas não era a mãe. Era eu.

Apercebi-me de que ela me seguia e me agarrava as calças quando estava já à porta da loja, pronta para sair. Olhei para trás e vi a mãe, de vinte e tal anos, lá ao fundo, distraída com qualquer objecto numa prateleira. Nem notara que a filha tinha saído dali. A menina olhava-me, com a incompreensão estampada no rosto, os olhos grandes esbugalhados e o peluche bem agarrado e encostado ao peito, sem perceber de que forma a mãe se tinha transformado tanto. Calmamente, expliquei-lhe que tinha de voltar para trás e ir ter com a mãe. Esboçou um sorriso, voltou costas e começou a andar na direcção da mãe e, quando estava quase a chegar ao pé dela, esta abriu os braços para a receber, dando-se finalmente conta de que a filha se tinha afastado.

Não falei com ela, limitei-me a sair da loja depois de ver que a menina estava entregue à família, mas fiquei com a sensação de que aquela mãe não teve noção de como esteve perto de perder a filha, possivelmente para sempre. Fosse eu uma raptora e a esta hora estaria mais uma família destroçada, desesperada, a polícia em alvoroço, e aquela criança sabe-se lá em que estado.

Foram dois segundos. Não mais.

Já não é novo

Mas continua a ser genial!

6 de outubro de 2010

Coisas que podendo fazer mal ao corpo fazem muito bem à alma

Estar horas a conversar com amigos de longa data no Facebook, por ser impossível fazê-lo pessoalmente. Espremendo bem, o sumo não é nenhum. Não se falam de problemas, não se discutem políticas nem filosofias nem economia nem nada de jeito. Dizem-se disparates, muitos. Tantos que a certa altura a barriga dói de tanto rirmos. Perdemos a noção das horas e quando damos por isso passa da 1 da manhã e não temos sono e queremos continuar ali. Insultamo-nos como sempre fizemos, mas sabemos bem que o fazemos porque nos adoramos. Implicamos e ridicularizamos uns e outros, e visto de fora até pode parecer ofensivo, mas entre nós sempre foi assim e vai continuar a ser. Como dizia uma das intervenientes: há coisas que nunca mudam.
Ainda bem.

5 de outubro de 2010

Estranho é

receber um e-mail do chefe não só a agradecer um trabalho feito mas também a despedir-se com smiles.

Welcome to the Twilight Zone!

4 de outubro de 2010

Lembras-te?

- Cheira a chuva.
- Cheira a quê?
- A chuva.
- Mas a que cheira a chuva? A chuva é água, não tem cheiro...
- Não digas disparates! Claro que a chuva tem cheiro.
- Eu nunca senti o cheiro da chuva. Sinto o toque da chuva, as gotas a caírem-me na cabeça, e até já lhe senti o sabor, mas o cheiro nunca.
- O sabor da chuva?
- Sim. Quando chove, abro a boca e deito a língua de fora para apanhar as gotas que caem.
- E consegues apanhá-las?
- Claro que sim! Fecho os olhos, inclino a cabeça para trás, abro a boca e espero.
- Deves ficar com um ar de doida...
- E a mim que me importa? Sabe-me bem, sinto-me bem assim. Gosto do sabor da água fria da chuva. Mata-me a sede.
- Mata-te a sede? Mas não deves conseguir apanhar mais de umas poucas gotas...
- Não se trata de quantidade, mas de qualidade.
- Qualidade? Agora queres convencer-me de que a água da chuva é melhor do que a outra?
- Nada disso. Não sei se é melhor ou pior, nunca me informei sobre o assunto. Mas o prazer que sinto com aquela meia-dúzia de gotas de água é incomparável. Naquele instante, por uns segundos, sou novamente criança. Não tenho preocupações, nem obrigações, nem prisões... Sou feliz.
- E agora não és feliz?
- Sou, claro. Não tenho motivos para não ser. Mas não tanto como quando sinto o sabor da chuva.
- ...
- Não dizes nada?
- Não sei que te responda...
- É assim tão estranho gostar de beber a chuva?
- Não sei. Eu prefiro sentir-lhe o cheiro.
- E ele a dar-lhe... Qual cheiro?
- O cheiro da terra molhada pelas primeiras chuvas...
- Sabes que não passa do cheiro das bactérias em contacto com a água?
- Sei. Nem por isso deixa de ser bom. Mas não é só esse cheiro.
- Não é?
- Não. É o cheiro da renovação, é o cheiro do amor, é o cheiro da vida a recomeçar.
- Não quererás dizer a acabar?
- Claro que não! Com a chuva recomeça o ciclo da vida.
- Seja como for, agora não está a chover. Como podes dizer que cheira a chuva?
- Sinto o cheiro da chuva a chegar.
- Ah! Agora também és meteorologista?
- Não brinques, estou a falar a sério. Sinto no ar um aroma especial, que nem sei definir...
- Mas sabes que é aroma de chuva?
- Sei.
- Como podes ter a certeza?
- Porque é o cheiro que senti quando te beijei a primeira vez. Estava a chover, lembras-te?

O Cheiro da Chuva, Fábrica de Letras

3 de outubro de 2010

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Camões

Nonsense (ou talvez não), agora em língua de gente

Ao fim do dia, no autocarro, uma senhora que acabou de fazer a limpeza nos escritórios conversa com outra que é empregada de mesa, mas que actualmente não trabalha porque está de baixa. Aparentemente, o marido da primeira é ladrilhador e trabalha ali naquele edifício ao fundo da rua que tem os andaimes encostados à parede. Amanhã tem um dia muito ocupado pois tem de pôr os azulejos na entrada.

E depois há o outro que bate à porta do escritório e pergunta, antes de entrar: 
- Posso incomodá-la?


(A primeira versão não era muito mais divertida? Era.)

1 de outubro de 2010

Nonsense (ou talvez não)

Ao fim do dia, no bus, uma senhora que acabou de fazer os birús conversa com outra que é servosa, mas que actualmente não trabalha porque está de maladia. Aparentemente, o marido da primeira é carrelor e trabalha ali naquele batimento ao fundo da rua que tem a chafurdagem encostada aos muros. Amanhã tem um dia muito ocupado pois tem de pôr a carrelagem na entrada.

E depois há o outro que bate à porta do birú e pergunta, antes de entrar: 
- Posso desarranjá-la?

A cadeira do escritório


A cadeira do escritório é reclinável. Ou era, deveria antes dizer. Não há muito tempo, o mecanismo ter-se-á estragado, deixando o encosto da dita cadeira preso sempre na mesma posição, imóvel. Quando se tentava recliná-la, forçando as costas do corpo nas costas da cadeira, sentia-se qualquer peça presa, a impedir o movimento desejado. Durou meses a imobilidade das costas da cadeira do escritório. Meses durante os quais, quem ali se sentasse, ficaria limitado à posição ergonomicamente recomendável de costas direitas.

Até que um dia, sem explicação alguma, sem intervenção de qualquer espécie a não ser divina para quem acreditar nessas coisas, a peça ter-se-á desprendido ou partido ou soltado e o encosto da cadeira voltou a mover-se. A cadeira voltou a ser reclinável, tornou-se mais flexível e permitiu maior conforto aos seus utilizadores. Um conforto que será talvez passageiro, por provocar eventualmente danos futuros na anatomia, mas que é também imediato. E como vivemos no imediato, no hoje, mesmo que a lembrar demasiado o ontem e a pensar excessivamente no amanhã, o conforto proporcionado pelo encosto reclinável não só é desejado, como é o único que temos capacidade para contemplar devidamente. Por isso é o mais importante. Até porque amanhã este ou outro mecanismo pode voltar a estragar-se.