29 de novembro de 2010

R.I.P Frank Drebin



Leslie Nielsen (1926-2010)

Constatação da hora de almoço

No trajecto entre a minha casa e o meu local de trabalho não há um único local decente onde parar o carro por dois minutos para tirar umas fotos à maravilhosa paisagem branca com que a meteorologia nos presenteou hoje. Assim sendo, vão ter de acreditar em mim: isto por aqui está mesmo muito bonito!

Estrangeiro e estranho # 7



Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Balada da Neve, Augusto Gil

Ei-la que chegou, ainda assim um pouco mais tarde do que nos últimos anos. A neve. E acho que em português não temos mais palavras para descrever este fenómeno atmosférico. Eventualmente, acrescentamos uns adjectivos, como neve dura ou mole ou derretida. Mas toda a gente já ouviu dizer que os esquimós têm várias palavras para a neve - o que é natural, tendo em conta que vivem com ela diariamente. Pois bem, aqui ficam algumas dessas palavras nas línguas Inuit. Espero que vos sejam úteis, se um destes dias andarem pelo Pólo Norte.

Neve kaniktshaq
Sem neve aputaitok
Nevar qanir, qanunge, qanugglir
Tempo de neve nittaatsuq, qannirsuq
Neve ou chuva fina kanevcir
Primeiro nevão apingaut
Neve leve a cair qannialaag
Molhada e a cair natatgo naq
No ar, a cair qaniit
Ar pesado com neve nittaalaq
Superfície ondulada com neve kiyuglak
Leve, suficientemente espessa para andar katiksugnik
Fresca sem gelo kanut
Estaladiça sillik
Suave para viajar mauyasiorpok
Mole e espessa onde é preciso sapatos de neve para viajar taiga
Neve como pó nutagak
Salgada pokaktok
Batida a vento upsik
Fresca nutaryuk
Compacta aniu
Estaladiça que parte ao andar karakartanaq
Lamacenta no mar qinuq
A melhor para construir um iglu pukaangajuq
A derreter mangokpok
Firme (a melhor para cortar, a mais quente, a preferida) pukajaw
Solta, acabada de cair que não pode ser usada assim mas pode ser um bom material de construção quando compactada ariloqaq
Para derreter e fazer água aniuk
Que os cães comem aniusarpok
A flutuar na água qanisqineq
Para construir auverk
Na roupa ayak
Sacudida da roupa tiluktorpok
Em muita quantidade na roupa aputainnarowok
Formação de neve prestes a cair navcaq
Nos ramos das árvores qali
Soprada para dentro de casa sullarniq
Tempestade de neve que bloqueia alguma coisa kimaugruk
Tempestade de neve com forma de seta kalutoganiq
Neve a flutuar no ar akelrorak
Tempestade de neve pirsuq, pirsirsursuaq, qux
Tempestade de neve violenta igadug
Avalanche sisuuk, aput sisurtuq
Ser apanhado numa avalanche navcite

Da próxima vez que forem para aqueles lados, já sabem dizer o que dizer no rádio quando ficarem presos numa avalanche.

28 de novembro de 2010

Pequenas coisas que fazem milagres # 2

Oficialmente, é Natal.

26 de novembro de 2010

A todos vocês

A todos os que por aqui passaram e deixaram palavras de coragem e de carinho. Por estranho que possa parecer, ajudam. Muito.


Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill

25 de novembro de 2010

Pequenas coisas que fazem milagres

Conheces-me bem demais.

Como sempre...?

Há dias assim, em que por mais que tente não consigo concentrar-me. Voltar ao local do crime não é fácil, não percebo por que os criminosos insistem em fazê-lo, se acabam sempre por ser apanhados por isso mesmo. Mas eu não tive escolha, tive mesmo de voltar ao local de sempre, ver as pessoas de sempre, ouvir as conversas de sempre, os assuntos de sempre, o trabalho de sempre… Só a concentração e a vontade não são as de sempre. Porque há frases, situações, assuntos que não me saem da cabeça, porque basta olhar em volta e ouvir as conversas. Eu tento. Tenho os papéis na secretária à minha frente, tenho o ecrã do computador ligado, tenho o rádio sintonizado na estação de sempre e já conheço até a sequência das músicas que tocam. Mas olho para os papéis e o que vejo é uma sequência ininteligível de letras, olho para o ecrã e não consigo perceber onde tenho de carregar para avançar, oiço o rádio e nada do que dizem faz sentido. Porque o meu corpo está aqui, mas a minha alma não.

O dia seguinte

Depois dos murros no estômago preciso de me afastar, sempre. Não falo, escondo-me no meu canto, isolo-me e rezo para que não me procurem - principalmente porque reajo mal a qualquer mínima contrariedade. Trato mal quem me rodeia, respondo torto, chego mesmo a gritar, dizem, não que me aperceba disso. Trata-se de um escape, apenas isso, estes conflitos que invento onde não existem. Servem simplesmente para desabafar, para deitar fora tudo o que estava preso cá dentro. E na verdade aliviam, de facto, embora depois fique de rastos por ter reagido assim com quem não merece. Desta vez... Desta vez foi como de todas as outras vezes. Descarreguei na pessoa errada, mesmo tentando não o fazer. Mas decidi afastar-me durante mais tempo daquilo que me fez mal. Um dia inteiro longe, sem ver, sem ouvir, sem pensar. Serviu, pelo menos, para acalmar, para corrigir o mal feito no dia anterior, para descansar a cabeça e o corpo. Agora... Agora é outro dia. Agora é ter Compensan à mão para as dores de estômago que se vão seguir.

23 de novembro de 2010

Difícil

Difícil é ter de fazer cara alegre quando me apetece chorar. Difícil é lutar durante anos e não ter resultados. Difícil é levantar a cabeça depois. Difícil é arranjar coragem para continuar a tentar. Difícil é ouvir que alguém fez tudo o que eu mais quero fazer e não consigo. Difícil é mostrar-me feliz por terem conseguido o que eu tanto desejo. Difícil é não sentir inveja. Difícil é não sentir a injustiça. Difícil é não pensar que o universo está todo contra mim. Difícil é encontrar o lado positivo. Difícil é não desabar quando estou sozinha.

Difícil é ter um sorriso no rosto quando por dentro…

A propósito de nada # 3

Já aqui disse que trabalhei como jornalista. Pois bem, a certa altura precisávamos de mais colaboradores para a publicação e colocámos anúncio nesse sentido. Entre os vários candidatos que se apresentaram, recordo um que destacava no Curriculum Vitae um curso de criação de avestruzes. Suponho que enquanto as aves enfiavam a cabeça na areia ele tinha tempo para praticar a arte da escrita...

Agradar aos leitores tem limites!

Tenho todo o gosto em tentar ajudar quem veio procurar saber quantos segundos são 3 horas, 20 minutos e 15 segundos. Se não me enganei nas contas, são 12015 segundos (mas eu sou mesmo é de letras, portanto é possível que os cálculos estejam errados).

Agora quem aqui chegou à procura de "cachorro f*dendo mulher" vai ter uma grande desilusão!

22 de novembro de 2010

Eu gosto de agradar aos leitores

E o João pediu, por isso eu dou. Porque não quero que lhe falte nada!

Estrangeiro e estranho # 6

Um palíndromo é uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades que pode ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita, como por exemplo as palavras osso ou sopapos. Esta característica não é exclusiva do português e em finlandês encontramos alguns dos palíndromos mais longos do mundo:

saippuakivikauppias - vendedor de pedra-sabão
solutomaattimittaamotulos - o resultado de uma medição em laboratório para tomates

Há até quem se entretenha a inventar palíndromos mais complexos, muitas vezes sem sentido, como estes:

Anotaram a data da maratona
Assim a aia a missa
A droga da gorda
A mala nada na lama
A torre da derrota

Não que em estrangeiro façam mais sentido, atenção! Vejam, por exemplo, o que os finlandeses são capazes de fazer por uma cerveja: neulo taas niin saat oluen (tricota novamente para teres uma cerveja). Ou o que os alemães consideram uma mulher fina: Nie fragt sie: ist gefegt? Sie ist gar fein (ela nunca pergunta: foi varrido? Ela é muito fina).

Não pensem que este tipo de jogo de palavras é novidade, porque já os gregos antigos o usavam: 

ΝΙΨΟΝ ΑΝΟΜΗΜΑΤΑ ΜΗ ΜΟΝΑΝ ΟΨΙΝ (Lava também teus pecados, e não só o rosto)

Aliás, um famoso palíndromo bi-dimensional é uma inscrição latina que foi encontrada nas ruínas de Herculano e Pompeia. O quadrado é absolutamente simétrico - pode ser lido da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, de cima para baixo e de baixo para cima. Existem duas alternativas propostas para a tradução, que não é consensual: "O semeador Arepo conduz cuidadosamente o arado" e "O criador mantém o mundo em sua órbita".

Quadrado Sator, também conhecido como quadrado mágico,
quadrado latino ou fórmula Sator
Em português, um dos maiores que encontrei foi este:

É volitar ter a ave... Lico domina e lê. Ática, Ana Morale, a ti, Paolo, todavia, relê. Assinada, ela fala: ‘– Sai, cala, foge, retrata, vá, ó Satim! (repetem o nosso nome). Te permitas o avatar ter ego. Falácias, Alá, fale à Danissa!’ Ele, raiva do tolo, apita... Ela, romana, a cita. Ele, ânimo dócil... Eva, a retrátil, o vê!

De onde se depreende que há por aí muita gente desocupada...

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.

21 de novembro de 2010

Finalmente percebo

Pensava eu que os macarons eram assim uma espécie de bolacha recheada com mania das grandezas, a que nem sequer achava grande piada. Eram doces e pronto, comiam-se, mais nada. Até provar estes:


Admito: são uma delicia! Principalmente acompanhados por um chocolate quente, a um domingo à tarde, quando lá fora está um frio insuportável.

Felicidade

Adormecer nos teus braços, a cabeça no teu peito, ouvir o bater do teu coração embalar-me, sentir o teu cheiro e o calor do teu corpo. Sempre.

20 de novembro de 2010

Hoje é assim

19 de novembro de 2010

Apresento-vos o velho Sheldon...

...ou será o novo?



The Big Bang Theory. Nunca imaginei que a física pudesse ser tão divertida!

Para reflectir nos próximos dias

Deves desconfiar do cavalo quando estás atrás dele; do touro quando estás à frente; e dos políticos em todos os lados.

Paul Valéry

18 de novembro de 2010

Ainda se fosse uma caixa de pastéis de Belém...

Sou só eu que acho uma foleirada pegada os objectos em cortiça que o Estado Saloio Português vai oferecer às altas individualidades que vão participar na cimeira da NATO? Até já estou mesmo a ver o Obama a usar a bela da gravata de cortiça, ou a Hillary Clinton de mala de cortiça no braço enquanto vai ao supermercado. Quanto muito, pode ser que o cão, por patriotismo canino, não se recuse a usar a coleira...

Uma boa causa

Anjinhos de Natal

É certo que na época do Natal aparecem mil e uma campanhas de solidariedade, é certo que não podemos contribuir para todas. Mas também é certo que nesta altura as pessoas estão mais predispostas a dar, por muito pouco que seja. Por isso mesmo, o melhor é escolher uma ou duas causas e contribuir como pudermos. Descobri esta há uns dias e pareceu-me interessante. Primeiro, porque não me pedem dinheiro sabe-se lá para quê em troco de um boneco de feltro que acaba por ir parar ao fundo de um baú. Depois porque a oferta é feita directamente a uma criança específica e não a uma organização sem rosto que nunca temos a certeza de entregar o que demos com tanto carinho. E finalmente porque permite ajudar crianças desfavorecidas a terem um Natal um bocadinho melhor. Não devia ser só no Natal, devia ser o ano todo? Devia. Mas gosto de pensar que com a minha ajuda contribuo para que pelo menos um dia da vida destas crianças seja mais feliz. Segue-se a explicação por quem está a organizar tudo.

Os anjinhos são crianças desfavorecidas, às quais o Exército de Salvação, com a nossa participação e de colaboradores de muitas outras empresas, ajuda a ter um Natal mais alegre. As crianças mais carenciadas são seleccionadas pelo Exército de Salvação, que faz a pesquisa no terreno junto das famílias mais necessitadas.
Depois de seleccionados os nomes e idades das crianças são colocados num cartão com o pedido da prenda. O anjinho é o cartão onde vêm mencionados a idade e o presente da criança em causa: um brinquedo e um fato de treino para a idade. Todos os anjinhos correspondem a uma criança específica, por esse motivo em todos os presentes deve ser colocado o número correspondente à criança, este número vem mencionado no cartão-anjinho.

Quem quiser contribuir pode solicitar o número de anjinhos que pretende através do mail: fiosoltos@gmail.com e eu enviarei toda a informação do anjinho o mais rápido possível.

Estes pedidos devem ser feitos no máximo até dia 30 de Novembro e a entrega dos presentes será feita entre os dias 2 e 7 de Dezembro nas instalações da TVI, ao cuidado de Ana Almeida ou contactar-me para que eu possa indicar outro local ou mesmo ir levantar os presentes, nenhum anjinho ficará sem presente por motivos logísticos.

É muito importante que todos os presentes sejam entregues devidamente identificados com o número do anjinho.

Um grande OBRIGADA a todos os que acolherem esta acção.
Os Anjinhos no Facebook: LINK

A saga do Leste continua...

Um búlgaro pergunta-me como se pronuncia o nome de uma personalidade portuguesa porque precisa de o escrever no alfabeto cirílico. Apeteceu-me trocar os B pelos V, os R pelos G, não dizer os L e falar à moda de Bijeu [e posso dizer isto porque tenho família de lá]. Mas hoje estou bem-disposta.

17 de novembro de 2010

Apresento-vos o verdadeiro Gato Fedorento...

...na voz da grande Phoebe Buffay!



Friends. Ando com vontade de rever as 10 temporadas - pela quarta vez, se não estou em erro...

A propósito de nada # 2

Em tempos trabalhei no atendimento telefónico de uma operadora de telemóveis. Não via o público e o público não me via. Mas tínhamos de obedecer a um dress code. A regra básica era não usar calças de ganga, excepto à sexta-feira (sempre perguntei se à sexta não se trabalhava como nos outros dias, nunca me souberam responder). Os homens não eram obrigados a usar fato, mas eram encorajados a isso. Diziam que era por causa da imagem da empresa. Repito: não víamos ninguém, ninguém nos via (especialmente se tivermos em conta que trabalhávamos por turnos e muitas vezes entrávamos e saíamos das instalações durante a noite ou ao fim-de-semana).

Lembro-me de um colega, jovem e de cabelo comprido, que começou por apanhar o cabelo num rabo-de-cavalo até que acabou por cortá-lo, tal não era a pressão. Continuou a fazer o mesmo trabalho, da mesma forma que até aí. Mas provavelmente com a cabeça mais leve, sem o peso do cabelo...

16 de novembro de 2010

Pensamento da noite

As novas caras do livro

E abrir o Facebook pela manhã e encontrar isto:


E perceber que quem teve a ideia deu origem a um fenómeno que possivelmente nunca imaginou. E perceber que hoje em dia é tão fácil embarcar nas modas e aderir que nem carneirinhos. E perceber que também eu o fiz, não uma, mas duas vezes (quem me manda ter dupla personalidade?). E ver que de repente (quase) todas as publicações no livro das caras são de músicas antigas, desenhos animados antigos, genéricos de séries antigas, anúncios de televisão antigos... e quanto mais piroso, melhor. E perceber que o pessoal dos 30 para cima sofre de uma nostalgia crónica pela década de 80 do século passado. E perceber que se calhar é a melhor maneira de não pensar nos problemas e na crise. Afinal, na banda desenhada tudo é tão simples e acaba sempre bem...

Claro que depois há aqueles que são do contra, podemos ter a ideia mais genial do mundo que há-de sempre haver alguém para contrariar. E então? Qual é o problema de toda a gente mudar temporariamente a foto para um boneco qualquer do antigamente? Expliquem-me, se fazem favor, porque eu ainda não percebi.

Este ninguém engana!

Notícia no rádio, esta manhã

A polícia mandou parar um cidadão numa viatura por condução perigosa. Pediram-lhe os documentos, mas como o motorista não os tinha, acompanharam-no a casa onde encontraram um saco com uma determinada quantidade de marijuana, que prontamente confiscaram. Até aqui, tudo normal. Só que o génio ficou furioso e dizia que não podiam levar o que era dele porque não tinham mandato de busca. Não é preciso, explica-lhe a polícia (não me perguntem porquê, eu não percebo nada destas coisas de leis, mas suponho que o agente sabia do que estava a falar). E o indivíduo não acredita e insiste que no CSI Miami a polícia tem sempre de ter um mandato de busca e se eles dizem é porque é verdade.

Imagino o ataque de riso dos agentes da polícia depois de uma resposta destas…

15 de novembro de 2010

Declaro oficialmente aberta a época natalícia

Adoro a época do Natal, que começa agora oficialmente neste canto blogocoiso. Até lá, vão com certeza aparecer por aqui as musiquitas que todos adoramos (admitam que é verdade!), as estrelas, o Pai Natal, as renas, as luzes, os doces...

Começo com estas delícias que só aparecem nesta altura, infelizmente. Ou felizmente, conforme o ponto de vista. Eu era até capaz de propor estes bolinhos para um prémio qualquer...

[Anda por aí algum representante da marca que me leia? Aceito donativos em géneros!]


Estrangeiro e estranho # 5

Vá, todos juntos: Llan-vire...
Lembram-se do vulcão islandês do Verão passado? Sim, o Eyjafjallajokull, esse mesmo. E lembram-se de ninguém saber pronunciar o nome, nem sequer ter a certeza de como o escrever? Pois bem, tenho a informar-vos que há por esse mundo fora nomes muito piores.

Comecemos pelo País de Gales, onde há uma terra com o impressionante nome de

Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwillantysiliogogogoch

Parece que esta lengalenga significa "Igreja de Santa Maria junto ao bosque de castanheiros, perto do redemoinho rápido e da gruta vermelha da Igreja de São Tisílio". Pelo que vi na Internet, até deve ser um sítio bonito. Mas já estou a imaginar uma conversa do tipo "Sabes onde vou estas férias? A Llanfairpwllgwyngyll...coiso...". Por isso é que no Verão eles rumam todos para o Allgarve, é mais fácil de pronunciar.

E esta, quem consegue dizer?
Na Nova Zelândia, uma pequena colina situada na baía de Hawke foi baptizada com o singelo nome de

Taumatawhakatangihangakoauauotamateaturipukakapikimaungahoronukupokaiwhenuakitanatahu

que significa literalmente "O cume da colina onde Tamatea, o homem de joelhos grandes, o escalador de montanhas, o comedor de terra, o viajante, tocou flauta nasal para sua amada". Romântico, sem dúvida, principalmente se ele tiver comido a terra antes de tocar a flauta.

Mas o recorde é da Tailândia, cuja capital é conhecida como Banguecoque, embora seja apenas o nome da cidade abreviado. Tendo em conta que não se deixam espaços entre as palavras no tailandês escrito, o verdadeiro nome é o seguinte*:  

Krungthephphramahanakhonbowonratanakosinmahintharayuthayamahadilokphiphobnovpharadradchataniburiromudomsantisug

Isto tudo para dizer "Cidade dos anjos, grande cidade e residência do Buda de esmeralda, cidade invicta do deus Indra, grande capital do mundo ornada com nove preciosas gemas, onde abundam enormes Palácios Reais que se assemelham à morada celestial onde reina o Deus reencarnado, uma cidade oferecida por Indra e construída por Vishnukarm". Custava muito chamar-lhe só Krung e pronto? Mania de complicar...

No outro extremo, temos os sempre pragmáticos europeus do norte. Na Dinamarca, na Noruega e na Suécia existem três localidades com o nome de A. Assim, só uma letrinha e logo a primeira do alfabeto para terem a certeza que ninguém se esquece deles. Com Z não encontrei nenhuma, mas só Y existe uma em França e outra no Alasca.

Bom, convenhamos que também temos alguns nomes de localidades de difícil pronúncia pelos estrangeiros, como Freixo de Espada a Cinta, Malhada do Mendo Marques de Baixo (Arraiolos) ou Quiaios (Figueira da Foz) que consegue a proeza de ser a localidade portuguesa com mais vogais seguidas no nome. Isto para não falar de nomes que são, simplesmente, hilariantes (suponho que já toda a gente tenha ouvido falar do Cu de Judas, mas vejam aqui mais alguns exemplos). Agora o que eu gostava mesmo era de ouvir alguém pronunciar estes nomes...

*Segundo a Wikipedia, o nome é Mahanakhon Amon Rattanakosin Mahinthara Yuthaya Mahadilok Phop Noppharat Ratchathani Burirom Udomratchaniwet Mahasathan Amon Piman Awatan Sathit Sakkathattiya Witsanukam Prasit e consta no livro dos recordes do Guinness como o maior nome de cidade do mundo, com 152 letras.

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.

14 de novembro de 2010

Os cinco sentidos da saudade


Sempre dá para enganar a saudade...

A Vera perguntou, a Malena também, depois foi o João e, finalmente, a Malena voltou à carga com o mesmo assunto: Saudade. O cheiro, o sabor, o som, o toque da saudade. Fui deixando comentários a uns e a outros, por ser um tema que me afecta de forma especial, talvez por estar longe, acredito que sim, mas não só: por ser portuguesa, e basta. E por saber que há por aí mais gente a quem as saudades batem, e forte, em alguns momentos, e que talvez não leiam a Vera, a Malena ou o João (fazem mal!), e também por querer guardar aqui, no meu canto, o que deixei nos cantos deles, aqui fica o que por lá disse, mas não só.

Olfacto

A saudade cheira bem, cheira a Lisboa... 

Cheira a Tejo; a mar; ao escape dos carros no Rossio; às bifanas afogadas em molho com mais de um mês na tasca; ao metropolitano (especialmente em hora de ponta); a castanhas assadas no carvão; a imperiais e caracóis; ao after-shave do meu pai; à naftalina do baú da minha avó; ao sabonete da minha mãe; aos perfumes dos amigos; ao bolo no forno; a pão quente; a pão com chouriço; a pastéis de Belém e travesseiros de Sintra. Cheira a sardinha assada e vinho tinto e às marchas populares na avenida, no Santo António.

Paladar

A saudade sabe a refresco de groselha e capilé; a arroz de grelos e iscas (duas coisas que odeio, mas o sabor é inesquecível); a bolachas comidas na cama ao domingo de manhã enquanto lia um livro; às caipirinhas e à sangria do jantar com os amigos; ao chocolate que a dona da mercearia me dava quando eu lá ia e me perguntava por que é que eu gostava dela (resposta pronta: porque me dás chocolates); aos gelados na praia; a feijoada e ao creme das bolas de Berlim; a pastilhas Gorila e a Flocos de Neve; ao leite com chocolate Ucal; a caramelos Peña comprados em Badajoz; ao teu beijo.

Audição

Soa aos discos do Marco Paulo com que a vizinha de cima fazia o favor de me acordar; aos gritos da mesma vizinha para acordar os filhos (como se calcula, odiava-a!); à voz da vizinha das traseiras a chamar pelo cão logo de manhã (Pilooooooto!); aos ruídos do rádio que não apanhava bem "aquela" estação da moda que eu queria ouvir; ao Quando o Telefone Toca; aos Parodiantes de Lisboa à hora do almoço; ao Pólo Norte, Pólo Sul e Polilon e às Meias CD ("com CD quem ganha é você"); ao Bacalhau da Maria que ouvi o dia inteiro na praxe da faculdade; à MTV o dia todo no bar da faculdade; às músicas dos concertos a que assisti; aos concertos da semana académica; à música insuportável durante a bênção das fitas no único ano em que tiveram a triste ideia de a fazer em Fátima (Viiiiiinde e louvai-o, viiiiiiinde e louvai-o, viiiiiiiiinde e louvai o Senhooooooor); ao pregão do vendedor de nougat na praia da Costa de Caparica ("É quatro ceeeeeem, quatro ceeeeeem!"); à campainha do carrinho dos gelados no Verão; às músicas no rádio enquanto estudava; à voz dos meus pais ao telefone; às vozes dos amigos que estão longe; ao zurrir do burro na casa onde passava férias em Monsanto (que não sendo a minha terra verdadeira, é o que tenho de mais parecido); à música do Indiana Jones; e, para não destoar, ao barulho dos motores do avião.

Tacto

Tem o toque do teu corpo no meu; do abraço apertado; da mão na testa quando estou doente; das mãos dadas e dos dedos entrelaçados; dos beijos no rosto; dos carinhos dos meus pais; da pele macia; o calor da lareira; a cadeira de palha desconfortável mas tão minha que ninguém se sentava ali quando eu estava; do vento nos cabelos; das picadas de mosquitos; da pedra da calçada; do pêlo do burro (sempre em Monsanto).

Visão

É a última curva do avião ao chegar a Lisboa, em direcção ao Cristo Rei, por cima da ponte 25 de Abril, o Tejo lá em baixo, a mata de Monsanto (esta em Lisboa, não a aldeia da Beira Baixa) do lado esquerdo (tento sempre ter lugar do lado esquerdo do avião só por estes últimos minutos de viagem), a ponte Vasco da Gama lá ao fundo, Sintra e Cascais à direita, e depois sobrevoar a cidade inteira e procurar reconhecer todos aqueles sítios lá do alto. E é o aeroporto e o avião do Zaire que lá está parado há anos a acumular pó. São os sorrisos sinceros nos rostos dos amigos, são as letras no ecrã quando conversamos. São os cabelos brancos da minha avó. São os pedregulhos da aldeia de Monsanto, a paisagem árida. É a praia e o campo, é o Gerês e o Algarve, é Portugal inteiro. É principalmente, e acima de tudo, Lisboa, o rosto dos meus pais e os dos amigos. É para isso que tenho uma estante cheia de álbuns de fotografias.

Sexto sentido

Saudade é a luz e o calor do sol, a cor e o cheiro do mar, a gargalhada da minha prima, o sabor a sal das lágrimas e o rosto dos que já não são.

13 de novembro de 2010

Quem sou? De onde venho? Para onde vou? O que faço aqui? Por que estou aqui? Por que não estou ali?

Aqui fica a resposta, o resultado de um rigoroso e aprofundado estudo científico:

Juro mesmo!

12 de novembro de 2010

Apresento-vos Basil Fawlty...

...e o incrível Manuel. Qué?




Fawlty Towers: outro clássico, este com o magnífico John Cleese.

A propósito de nada

Tive uma colega que aquecia as luvas no microondas de manhã, antes de sair de casa. E um dia lembrou-se de pôr um hambúrguer congelado na torradeira, para ser mais rápido. Correu mal…

11 de novembro de 2010

Aqui não acontece nada

Rick Kirkman & Jerry Scott, Baby Blues 26 - A Desordem Natural das Coisas

Apresento-vos o Dr. House...

...antes de estudar medicina.



Black Adder: provavelmente, uma das melhores séries cómicas de todos os tempos.

Publicidade aqui não, obrigada

Estava ontem a ver o programa “Condenados”, na SIC, por sinal bastante interessante, quando, sem mais nem menos e principalmente sem qualquer importância para a reportagem, a jornalista diz que ficou hospedada na Albergaria X e vai de mostrar a placa com o nome, a recepção, o quarto, tal e qual como se de um programa de turismo se tratasse. A certa altura, pensei até que teria havido um qualquer problema com a edição do programa e teriam misturado uma parte do “Boarding Pass” por engano. Mas não, falava-se de homicídio e adultério, não de monumentos e restaurantes. E nem sequer era num local recôndito do Portugal profundo, não. Estamos a falar da zona de Coruche, a menos de uma hora de Lisboa, pelo que a estadia no local até nem se justificava.

Depreendo, portanto, que a crise também já chegou às reportagens da televisão.

10 de novembro de 2010

Espécie em vias de extinção

Rick Kirkman & Jerry Scott, Baby Blues 26 - A Desordem Natural das Coisas

Efeitos do Outono

O frio, a chuva, o céu cinzento há cinco dias convidam a ficar por casa, aconchegada, embrulhada numa manta, sentada no sofá, um chá quente numa mão, o comando da televisão na outra, um filme romântico no ecrã, a melhor companhia do mundo ao lado.

Mas.

O trabalho, os prazos, as obrigações laborais, os poucos dias de férias que restam e fazem falta para aquela semana que já está programada há tempos, o sentido de responsabilidade, alguma dose de masoquismo, obrigam-me a arrastar-me até ao emprego, embrulhada num casaco, guarda-chuva numa mão, mala na outra, sentar-me numa cadeira dita ergonómica, um filme de terror no ecrã do computador, a pior companhia do mundo nos gabinetes vizinhos. E a repetir tudo amanhã.

9 de novembro de 2010

De repente

Vem não sei de onde, inesperadamente, e atinge-me em cheio como um murro no estômago ou uma onda, um tsunami que primeiro me leva para fora de pé, depois passa-me por cima da cabeça e quase me afoga. Luto para chegar à tona, mas a superfície está cada vez mais longe, a luz do túnel afasta-se como a fugir-me e quanto mais luto mais me canso e sufoco. Perco as forças. E não sei porquê.

Faz-me falta

Foto daqui
O Sol.

8 de novembro de 2010

Onde estás que não te vejo?

Este post do Rafeiro mais bem-cheiroso da blogosfera nacional (se não mundial), a propósito da problemática de dar indicações idiotas às pessoas, lembrou-me de quando eu trabalhava num sítio onde tínhamos um intercomunicador com visor para responder a quem tocava à campainha. Trabalhávamos num open space no último andar e na entrada não havia espaço para ter uma recepção, sendo que nos andares intermédios estavam outras empresas, pelo que convinha ter atenção a quem se deixava entrar nas instalações. Acontece que o aparelhómetro (e respectiva câmara, claro) ficava ligeiramente à direita da porta de entrada e, depois de tocar à campainha, as pessoas naturalmente chegavam-se à porta, não aparecendo no ecrã.

Ora a primeira secretária/recepcionista que tivemos não primava pela inteligência era um bocadinho limitada (a segunda também, mas isso não vem agora ao caso). De maneira que, de cada vez que alguém tocava à campainha, ouvíamos a rapariga literalmente aos gritos, com uma voz irritante e esganiçada:

“Chegue-se um bocadinho mais para trás, mais para tráááás. Mais para a esquerda, para a esqueeeeerda. Não, agora foi demais. Mais para a direeeeeeita!”

Até que um dia um colega, farto de a ouvir guinchar, responde do fundo da sala:

“Mais para ciiiima, que o gajo é anão!”

Definitivamente, é segunda-feira

A página de entrada do Internet Explorer mudou, durante o fim-de-semana, por vontade própria. Segue-se um telefonema para o Helpdesk, porque a porcaria da opção que serve para mudar a página de entrada está desactivada e só os génios do outro lado lhe podem mexer. Seja.

Como sempre, o telefonema é surreal. Só depois de lhe dizer quatro vezes que agora não tenho a página da Intranet mas sim uma página do MSN (e que não carreguei em lado nenhum a dizer que queria mudar a página de entrada) é que o “especialista” percebe qual é o problema. Manda-me reiniciar o computador e eu a lembrar-me da anedota dos três engenheiros dentro do carro, mas não podia dizer nada, não fosse ele ficar ofendido e, de vingança, cortar-me o acesso ao Blogger ou ao Facebook.

Dou-lhe autorização para o acesso remoto e ele vai de instalar uma coisa qualquer que não cheguei a perceber o que era porque, obviamente, assim que ele abriu o IE, lá estava a nossa página da Intranet toda lindinha, como se nada se tivesse passado. Avancemos, que o dia ainda está a começar.

Entretanto, chega o chefe que traz bolos para o pessoal.


Medo!!!

E isto foi só de manhã...

Estrangeiro e estranho # 4

O original não é fiel à tradução. (Jorge Borges)


E agora em Grego, vá!

Perdoem-me o preciosismo, mas este vídeo tão divertido na realidade mostra um intérprete (que para o caso também serve) e dos bons! Muitas vezes confundidos, intérprete e tradutor não são a mesma coisa. Para quem não saiba, a diferença básica é simples: um tradutor escreve; um intérprete fala. Agradeço ao João ter-me recordado este vídeo.

Todas as expressões de que tenho falado nesta rubrica são de difícil tradução. Principalmente, por representarem realidades que não existem necessariamente noutras línguas - ainda aqui hei-de colocar as muitas palavras que os Esquimós usam para neve. Uma dessas dificuldades de que os falantes nativos de português se orgulham é a palavra saudade. Não é que os outros povos não a sintam, naturalmente que sim. Mas provavelmente não lhe dão a mesma importância, pelo que não necessitam de uma palavra específica para designar esse sentimento. Parecendo que não, a saudade é mesmo qualquer coisa tipicamente Tuga - talvez mais do que os pastéis de nata e o bacalhau...

Mas não pensem que somos só nós a ter palavras que dão dores de cabeça a qualquer tradutor minimamente aplicado. Neste artigo (enviado pela Ventania) verificamos que a nossa saudade aparece apenas em 7º lugar, atrás de ilunga (tshiluba) - uma pessoa que está disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez (à primeira todos caem), a tolerar o mesmo pela segunda vez (à segunda cai quem quer), mas nunca pela terceira vez (à terceira ninguém cai) - e de shlimazl (ídiche) - uma pessoa cronicamente azarada. Ainda assim, parece que a próxima é mais difícil  de traduzir do que a saudade, embora eu não consiga perceber porquê: pochemuchka (russo) - uma pessoa que faz perguntas demais. Tenho de apresentar umas quantas pessoas aos tipos que fazem estas listas...

Tal como a saudade, a maioria das palavras difíceis de traduzir representam realidades ou situações para as quais não temos uma expressão específica (em alguns casos, no entanto, até davam jeito). Ora digam lá se não queriam ter palavras para:

  • desviar-se da chuva movimentando-se depressa, como em havaiano: 'alo'alo kiki (e eu que pensava que no Havai estava sempre bom tempo!)
  • nadar só com as mãos, também em havaiano: honuhonu (deve ser parecido com nadar à cão, mas eu estava convencida que os havaianos sabiam nadar como ninguém... enfim, mas um mito desfeito.)
  • carregar coisas à cabeça sem as segurar com as mãos, na língua zarma da Nigéria: tallabe (alguém sabe de uma palavra para isto, já que no interior do nosso rectângulo ainda há quem leve bilhas e fardos de palha à cabeça num equilíbrio capaz de desafiar as leias da física?)
  • sentir o corpo preso por estar sentado na mesma posição durante muito tempo, em checo, diz-se: přesezený (será que passam assim tanto tempo sentados na mesma posição para precisarem de uma palavra específica para isto? Quer dizer... podem sempre levantar-se e esticar as pernas antes, digo eu!)

Ainda assim, pelo menos no meu caso, útil mesmo era uma palavra como teklak-tekluk (indonésio) que designa aquele movimento da cabeça a cambalear com sono. As actas das reuniões de trabalho seriam muito mais realistas!

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.

7 de novembro de 2010

Disclaimer

A autora deste espaço não se responsabiliza pelas publicações deste fim-de-semana. Foi tudo culpa do mau tempo, da chuva, do frio, e das nuvens que a possuíram que nem poltergeists assanhados. (Convenhamos que ter as luzes de casa acesas desde manhã cedo é coisa para deixar qualquer um de rastos.) 
E depois era isto ou andar por aí a deprimir pelos cantos... 

Agora se me dão licença, vou ali ao youtube procurar mais umas coisinhas para o João, que parece que já está com saudades.

Domingo à tarde



E quando não há nada para fazer? Procuram-se estas coisas giras no youtube...

Domingo

Quando não há nada melhor que fazer a um sábado à noite

É impressão minha ou a Operação Triunfo bate os Ídolos para aí por uns 10 a 0? 

Nem sequer falo da qualidade dos concorrentes ou da simpatia do júri, mas em termos de espectáculo de entretenimento não tem comparação. Ao menos percebe-se onde a RTP gasta os euros do contribuintes.

6 de novembro de 2010

Durante as férias dos vampiros...

...tenho a companhia dos zombies. É preciso é gente que morre mas não se conforma com isso para animar o serão!


E pela amostra, vale a pena.

5 de novembro de 2010

Invisível

Nem sei por onde começar - e não me respondam "pelo início", já sei que é por aí que devia começar. O problema é que nem sei qual é o início... Bom, suponho que podia começar pelo início de tudo, mas o Big Bang já foi há uns milhões de anos valentes e talvez os dinossauros e a era glaciar não tenham nada a ver com esta história. Ou então pelo dia em que nasci, para mim foi o início de tudo, antes disso nem mundo havia. Mas a verdade é que desde esse dia também já passaram muitos anos, mais do que os que gostaria de contar, e provavelmente as minhas aventuras para começar a andar ou a falar não vêm ao caso. Nem sequer a escola primária onde me arrastei durante mais anos do que devia, as primeiras amizades que entretanto perdi e nem dos nomes me recordo, ou as quedas da bicicleta, mesmo com rodinhas de apoio - desastrado e desequilibrado, como se vê, em mais do que um sentido.

Mas como dizia, nada disto importa para o caso. Vendo bem, nem sei o que importa... A primeira relação amorosa? Talvez. A primeira séria, pelo menos, se bem que para mim todas eram sérias, achava sempre que aquela era a definitiva, era com esta que ia casar e viver feliz para sempre, desde a primeira, aos 15 anos. Bom, deveria antes ter dito a primeira desilusão amorosa, claro está. Foi de facto nessa altura que descobri que era invisível. Quando ela me olhava e não me via, quando falava de mim como se eu não estivesse presente, quando me tocava sem me sentir, quando tomava decisões sem se lembrar de mim e quando decidiu pôr fim àquela relação por já nem se lembrar que estávamos juntos. Este padrão repetiu-se em quase todas as relações amorosas seguintes - não que tenham sido muitas, mas ainda assim foram algumas. Parece que de início sou apenas transparente, notam-se ainda alguns contornos, mas com o tempo a minha condição piora e deixam de me ver de todo.

Depois houve também o emprego que arranjei com a cunha do meu padrinho, não tenho problema nenhum em assumir - sou transparente até nisto. Enfiaram-me numa sala sem janelas, com um computador e vários armários de arquivo, e deixaram-me estar para ali à minha vontade, sem me incomodarem. Só estranhei quando, meses mais tarde, apareceu outra pessoa para fazer o mesmo trabalho que eu... Nunca hei-de esquecer o ar de espanto na cara do chefe quando deu comigo ali, o ar atrapalhado a tentar explicar a situação ao novo funcionário, sem saber muito bem o que dizer, até porque mal me viam! "Estou novamente invisível", pensei.

Já vos disse que casei? Claro que não, que disparate. Pois é, mas casei mesmo, numa cerimónia linda toda organizada pela minha mulher. Se bem que desconfio que o padre nem percebeu muito bem com quem estava a casar aquela mulher, de vez em quando fazia um esforço notório para me ver, franzia o sobrolho e voltava a cabeça na minha direcção. Depois desse dia, tornei-me ainda mais invisível, pelo menos cá em casa. A minha mulher põe, dispõe, faz, decide e nem me vê. Os meus filhos, tenho dois, fazem o mesmo. Desde que se tornaram adultos, principalmente, agem como se eu nem existisse. De transparente a invisível a inexistente, suponho que seja a evolução natural da minha condição.

Pergunto-me como será quando morrer. Imagino o velório, o caixão aberto sem nenhum corpo lá dentro que se veja, toda a família e amigos a olharem, desorientados, a sofrer, a chorar... Porquê? Por quem? E na lápide as palavras “Aqui jaz um homem que nunca ninguém viu".

É esta a história da minha condição: condenado de nascença a passar pela vida sem ser visto. Mesmo vocês que me lêem, não me vêem aqui, à vossa frente, enquanto escrevo estas linhas. Estou cansado, mas nada posso fazer a não ser continuar o meu caminho até que alguém me veja, se conseguir...

Transparência, Fábrica de Letras.

Ah, o amor...

Duas notícias, aparentemente sem relação, acabam por se revelar muito semelhantes.

A primeira fala do regresso dos golfinhos roazes ao estuário do Sado. Pelos vistos, descobriram uma nova cria de um golfinho fêmea que tinha partido e agora voltou a casa. Estranho só mesmo o facto de terem chamado Mr. Hook a uma fêmea, é caso para perturbar a identidade de qualquer um. Mas na verdade trata-se de uma história de amor: a fêmea foi até ao oceano, encontrou um namorado (é o que lhe chamam na notícia), teve um filhote e regressou. Não me perguntem se o namoro acabou, se o malvado não quer assumir a paternidade do filho, se Mr. Hook é uma fêmea independente, não sei responder. Mas é uma história bonita.

Tal como é bonita a história dos 33 mineiros chilenos, aqueles que estiveram presos na mina durante 70 dias. Mas mais bonita ainda será essa mesma história contada num filme pornográfico… com argumento! Que mais há a dizer? O amor está no ar e nem sequer é Primavera.

Cores


Dr. Clay's crayons live in a special box of cardboard that says 120 on it, that's how many all different. They've got amazing names written small up the sides like Atomic Tangerine and Fuzzy Wuzzy and Inchworm and Outer Space that I never knew had a color, and Purple Mountain's Majesty and Razzmattazz and Unmellow Yellow and Wild Blue Yonder. Some are spelled wrong on purpose for a joke, like Mauvelous, that's not very funny I don't think. (...) There's even a white crayon, wouldn't that be invisible?
Emma Donoghue, Room

Prometo que é o último post relacionado com este livro, acaba aqui a publicidade gratuita, mas encontrei a imagem e lembrei-me desta passagem. É mesmo muito bom!

4 de novembro de 2010

E ainda hoje é quinta-feira...

Depois de econômico e de cotidianas, só me faltava mesmo a desconcentração para completar o dia. Isso e as picuinhices de quem não tem mais o que fazer a não ser embirrar com as coisas simples. Gentinha complicada…

Objectivo para hoje (quase) cumprido

Quase consegui matar de susto uma Polaca à entrada da casa de banho. Faltou o quase.

3 de novembro de 2010

Pensamento do dia

It's called mind over matter. If we don't mind, it doesn't matter.

Emma Donoghue, Room

No rádio

- Já de seguida, os És Especial, com "Deixas Saudade".

Identificaram? Pois. Era disto que ele falava:



E aprender os nomes dos cantores e das canções antes de os anunciar, não?

2 de novembro de 2010

Bom, bom...

...é não trabalhar no dia a seguir a um feriado que até calhou à segunda-feira.

Leituras

My favorite bit of Outside is the window. It's differente every time. A bird goes right by zoom, I don't know what it was. The shadows are all long again now, mine waves right across our room on the green wall. I watch God's face falling slow slow, even orangier and the clouds are all colors, then after there's streaks and dark coming up so bit-at-a-time I don't see it till it's done.

Há muito que um livro não me prendia como este, a ponto de, por várias vezes, ter de me obrigar a largá-lo por já passar das 2h da manhã.

Mais do que a história, é a forma como é contada. Jack é um menino que acaba de fazer 5 anos. Vive com a mãe num quarto pequeno, com uma clarabóia e uma porta trancada. Para ele, o Mundo é isto. Embora tenha uma televisão, sabe que tudo o que aí vê é fantasia, as únicas coisas reais são o que existe dentro do quarto. Jack descreve o que vê e o que sente com a inocência e incompreensão próprias de uma criança curiosa e inteligente. E é pela sua voz que vamos percebendo a história, os acontecimentos terríveis que o colocaram a ele e à mãe naquela situação, e toda a coragem necessária para sair dela.

Jack faz-nos olhar para o que nos rodeia de uma forma nova. O Mundo, visto pelos olhos de uma criança que viveu sempre fora dele, é um lugar simultaneamente maravilhoso e assustador.

Segundo o site oficial, a tradução portuguesa está em preparação. A não perder!

1 de novembro de 2010

Estrangeiro e estranho # 3

I see dead people.

Tendo em conta que ontem foi Halloween, hoje é dia de Todos-os-Santos e amanhã é dia dos fiéis defuntos (mais conhecido por dia de finados), vamos falar de fantasmas, aparições e companhia.

A crença de que depois de morrer há mais qualquer coisa está presente em quase todas as culturas e é expressa de várias formas em cada língua. Na Nicarágua (Ulwa), aparentemente acreditam que quando uma pessoa morre liberta um iwang wayaka, espírito invisível que faz barulho. Certo. Invisível até entendo, fazer barulho é que se dispensava porque nestas alturas os vivos precisam de descansar. Já no Nepal (Sherpa) usam a técnica hrendi thenok para contactar a alma de um morto, que pelos vistos não é barulhenta como na Nicarágua, caso contrário seria fácil contactá-la.

Os nossos amigos esquimós (Inuit) tentam a tarniqsuqtuq, a comunicação com um espírito que não consegue partir. E como é que eles sabem disso? Provavelmente, o espírito é barulhento e diz-lhes. Os persas, por seu lado, falam de raskh, ou seja, a transmigração da alma humana para uma árvore ou planta. Não é por nada, mas assim como assim preferia ser um passarito, sempre dava para viajar.

Mas o mundo do além é tema de muitos filmes de terror, sentimento também reflectido nas línguas. Os campeões neste campo são os indonésios. Vejam só estes três exemplos:

- wewe é o fantasma de uma mulher feia com seios descaídos (pois… cada um tem medo do que tem e nada a fazer);

- keblak é um galo fantasma que assusta as pessoas à noite com o barulho das suas asas (não conhecem a lenda do galo de Barcelos, com certeza, porque mais assustador do que o barulho das asas de um galo é um galo morto que desata a cantar);

- kuntilanak é um fantasma disfarçado de mulher bonita para seduzir os homens, que depois ficam horrorizados ao descobrir que, na verdade, ela tem um grande buraco nas costas (bem feita, ninguém os manda pensar com a cabeça errada e além disso é escolher entre o buraco nas costas desta e os seios descaídos da outra).

Para terminar, agora que se aproxima o Natal, nada melhor do que uma figura do gaélico escocês que, desconfio, deve ter influenciado em muito a ideia que temos do Pai Natal, mas ao contrário: bodach é o fantasma de um homem velho que desce pela chaminé para aterrorizar as crianças que se portaram mal. Pais que por aí andam, parece-me que deve ser mais eficaz do que simplesmente ameaçar que não levam prenda!

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.