8 de outubro de 2010

O banco de jardim

(Fotografia de FJPR em Olhares.com)

A meio da subida, na berma da estrada, há um banco de jardim (ainda se chamará banco de jardim não estando num jardim?). Vi-o hoje pela primeira vez, nunca antes tinha reparado nele apesar de ali passar todos os dias, duas vezes por dia. Nunca lá vi ninguém sentado, também. Suponho que é possível que alguém se lá sente, de outra forma não passa de um banco de jardim na berma da estrada, sem qualquer utilidade. E se não tem utilidade, para quê existir? Um objecto tem uma utilidade definida, foi criado com um propósito e quando não o serve, quando deixa de nos servir, torna-se inútil, portanto supérfluo, e logo deixa de ter razão de existir.

Sempre achei os bancos de jardim tristes, quando vazios. Como se estivessem incompletos sem alguém lá sentado, como se lhes faltasse uma parte da sua essência. Como se o velho que ali descansa os ossos por uns minutos antes de continuar o seu caminho vagaroso ou o casal de namorados que se beija apaixonadamente lhe conferissem toda a razão da sua existência. Servir. É para isso que existem os bancos de jardim. Para proporcionar uns minutos de descanso à sombra das árvores num dia quente de Verão, para dar dois dedos de conversa com um amigo, para ler um livro, para esperar alguém que teima em chegar sempre atrasado.

Tal como as pessoas que vamos encontrando ao longo da vida. Também elas têm um propósito, uma razão de existir, que é diferente para cada um. Aquela pessoa, por exemplo, que para mim não passa de um conhecido com quem troco uns cumprimentos por obrigação mais do que por prazer, para alguém será certamente muito mais importante: pai, marido, irmão, filho… Certas pessoas têm uma utilidade limitada no tempo, uma espécie de prazo de validade. Entram na nossa vida no momento certo, cumprem determinada função essencial, ajudam-nos a crescer e a evoluir - mesmo aquelas de quem não gostamos ou que nos fazem mal. E quando deixam de nos servir, quando já não nos fazem falta, quando começam a apodrecer, desaparecem. Simplesmente. E é assim que deve ser. Sempre.

Por mais que os bancos de jardim pareçam tristes quando estão vazios.

3 comentários:

Anónimo disse...

Um objecto sem função ou utilidade definida e que pura e simplesmente existe é...
...arte!

Nesse sentido, não será esse banco de jardim uma forma de arte?

:)

Rafeiro Perfumado disse...

Pior é quando se vê esse mesmo banco com um velho. A expressão vaga, o olhar vazio, apenas à espera...

Tulipa Negra disse...

Ulisses, arte? Talvez. Mas está num sítio onde ninguém dá por ele, logo como arte também não cumpre a sua função.
Beijinhos


Rafeiro, pode estar à espera do amigo para jogar às cartas, ou do autocarro, ou do filho que o vem buscar para almoçar. Pode ser? Prefiro.
Beijinhos