25 de outubro de 2010

Estrangeiro e estranho # 2


Zezé: O gajo era romancionista.
Tóni: Arrumava carros? Toxico-independente?
Zezé: Romancionista! Escrevia poemas!

A comunicação é essencial entre as pessoas, mas por vezes é dificultada por vários factores. Algumas línguas têm expressões muito úteis que descrevem essas situações específicas. Na Indonésia, por exemplo, suponho que seja complicado conviver com quem sofre de latah, o hábito incontrolável de dizer coisas embaraçosas (não confundir com lata em português que significa, basicamente, descaramento). Além disso, começo a achar que os indonésios não devem ser muito educados, se têm uma palavra específica para quem interrompe sem pedir desculpa: nyelonong. Piores do que os indonésios, só os falantes das línguas Inuit (vulgo, Esquimós), que até têm uma palavra para quem nunca responde: akkisuitok.

Já na China, terra com tantos milhões de habitantes, é natural que alguns toquem alaúde a uma vaca (dui niu tanqin - parece que é no sentido de falar por cima de outra pessoa ou dirigir-se ao público errado). Mais estranho é que haja quem hesite e murmure sozinho (chenyin), mas imagino que com tanta gente à volta seja a única forma de conseguirem ouvir os próprios pensamentos.

Os turcos, por seu lado, têm a expressão catra patra que designa o acto de falar uma língua incorrectamente, como os nossos Tóni e Zéze ou alguém que está a aprender a língua. E quando estamos a falar uma língua que não conhecemos bem, temos tendência para, além de falar mais alto, responder sim a tudo, especialmente se não percebemos o que nos disseram. Chama-se a isso, em russo, dakat'.

Eu nunca estive nas Ilhas Cook, mas desconfio que por lá deve haver muita coscuvilhice entre os Maori. É a única explicação para a existência da palavra 'o'onitua, que significa falar mal de alguém na sua ausência. Na Jamaica, terra conhecida por ser bem mais descontraída tendo em conta vários produtos naturais que por lá usam e abusam, a mesma palavra em patois serve para coscuvilhice e anedotas ou canções e memórias nostálgicas da escola: labrish.

E como por esta semana a lição já vai longa, despeço-me na língua do vulcão que nos atazanou a vida este Verão:  

bless!

Inspirado por The Meaning of Tingo and Other Extraordinary Words from Around the World, Adam Jacot de Boinod.
Expirado e respirado por Tulipa Negra.

6 comentários:

Vício disse...

quanta cultura!!

(eu não espirrei...)

Tulipa Negra disse...

Vício, é para tu veres! De vez em quando, convém mostrar que também sei umas coisas... :P
Beijinhos

Rafeiro Perfumado disse...

Só discordo de uma coisa, eu quando não percebo uma língua não digo "sim" a tudo, não vá o interlocutor começar a despir as calças!

Tulipa Negra disse...

Rafeiro, bem visto. Mas aposto que falas portunhol aos gritos, como qualquer bom tuga que se preze! :D
Beijinhos

Malena disse...

Por isso é que quando me dizem: Vai-te lixar! Eu respondo: Com lixa nro 2 ou nro 4?? ;))

Tulipa Negra disse...

Malena, essa resposta é linda! Vou adoptar. :D