Dois segundos de distracção são o suficiente. Dois segundos em que a atenção se desvia do importante para o acessório, em que os olhos são atraídos por um qualquer movimento e, inconscientemente, aí se concentram. Dois segundos, não mais. Nesse período de tempo, aparentemente curto, tudo pode acontecer.
A criança, dos seus dois anos, talvez, caracóis loiros, olhos azuis, chupeta na boca, peluche na mão, linda de morrer, na ingenuidade e inocência naturais da idade, seguiu quem pensou ser a mãe. Aos seus olhos, os adultos parecem todos iguais e no meio da multidão é tão fácil confundi-los. A mulher que a criança seguiu estava vestida como a mãe, com uns jeans e umas sabrinas nos pés - os únicos elementos que a menina conseguia ver por estarem ao nível dos seus olhos. Mas não era a mãe. Era eu.
Apercebi-me de que ela me seguia e me agarrava as calças quando estava já à porta da loja, pronta para sair. Olhei para trás e vi a mãe, de vinte e tal anos, lá ao fundo, distraída com qualquer objecto numa prateleira. Nem notara que a filha tinha saído dali. A menina olhava-me, com a incompreensão estampada no rosto, os olhos grandes esbugalhados e o peluche bem agarrado e encostado ao peito, sem perceber de que forma a mãe se tinha transformado tanto. Calmamente, expliquei-lhe que tinha de voltar para trás e ir ter com a mãe. Esboçou um sorriso, voltou costas e começou a andar na direcção da mãe e, quando estava quase a chegar ao pé dela, esta abriu os braços para a receber, dando-se finalmente conta de que a filha se tinha afastado.
Não falei com ela, limitei-me a sair da loja depois de ver que a menina estava entregue à família, mas fiquei com a sensação de que aquela mãe não teve noção de como esteve perto de perder a filha, possivelmente para sempre. Fosse eu uma raptora e a esta hora estaria mais uma família destroçada, desesperada, a polícia em alvoroço, e aquela criança sabe-se lá em que estado.
Foram dois segundos. Não mais.
7 comentários:
eu conheço alguém, que quando tinha assim uma idade parecida com essa fez, uma dessas.
É mesmo assim! As crianças desaparecem com muita facilidade! Era das coisas que mais me angustiavam quando o meu filho era pequenino...
Imperator, eu também... mas antigamente parece que não era tão perigoso. :)
Mlena, é assustador, mesmo! Bastava a criança ter saído da loja e começado a andar pela rua, nunca mais a viam...
mulheres com prateleiras de lojas ficam em transe e não vêem nada à volta :P
Vício, não é bem assim. Se entrasse por ali um Brad Pitt ou um George Clooney (ou outro de quem ela gostasse) já via! :D
É...
...basta uma pequena desatenção...
:)
Ulisses, é mesmo.
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