11 de outubro de 2010

Alucinações

Encontro-me numa praia deserta, paradisíaca. O sol alto aquece-me a pele, o mar azul-turquesa ao fundo confunde-se com o céu no horizonte. As palmeiras proporcionam-me a sombra necessária. Ao meu lado, uma mesa onde está pousado um copo alto com uma bebida colorida enfeitado com um pedaço de ananás e um chapelinho de papel. Estou de férias, penso. Fecho os olhos e sorrio, feliz.

Inesperadamente, ao som do mar sobrepõe-se um ruído muito forte, um estrondo que se prolonga durante alguns segundos. Abro os olhos e vejo um clarão ao longe, em tons amarelos e vermelhos, uma chama que atinge a altura de vários arranha-céus. Sinto uma onda de choque que me atira ao chão de pedra e faz estremecer tudo à minha volta. Já não estou na praia e não percebo o que se passa. Levanto-me e começo a andar na direcção da luz, agora azulada, desviando-me de outras pessoas e dos carros que travam a fundo e buzinam, num súbito caos.

Consigo finalmente aproximar-me e vejo que a luz diminuiu de intensidade e de tamanho. Sem saber como, chego muito perto e estou afinal em casa, a olhar para dentro do forno cuja luz está acesa e onde vejo um bolo a cozer. Toca uma campainha, indicando que o bolo está pronto. Abro o forno, tiro a forma sem usar pegas nem qualquer espécie de protecção, mas não me queimo, e olho incrédula para as minhas mãos, imaculadas.

Não sei onde pus a forma, mas as minhas mãos, agora vazias, parecem-me gigantes. Sou tão pequenina! Tenho apenas cinco anos, estou na rua a brincar com outras crianças da minha idade. A minha avó chama-me, à janela: são horas de jantar. Olho e vejo-a sorrir.

Subo apressada as escadas do prédio onde moro e entro numa sala que não reconheço. Paredes e chão em metal, uma luz fria proveniente das lâmpadas fluorescentes do tecto alto, macas de hospital encostadas às paredes e, ao fundo, uma mesa enorme cheia de instrumentos cirúrgicos. Sou novamente adulta e estou assustada. Abre-se uma porta que até aí não tinha visto, na parede do lado direito. Oiço uma voz gritar, enérgica "Goooooood Morning, Vietnaaaaaam!" ao mesmo tempo que entra na sala o E.T. com um vestido de menina e um chapéu enfeitado com frutas e flores.

Sinto um cheiro intenso a pinho. Olho em volta. Estou no meio de um pinhal imenso, árvores de copas gigantes, a caruma pica-me os pés descalços. Oiço música a tocar mas não identifico de onde vem. Resolvo seguir o urso que me acena e sorri, mostrando-me um pote de mel enquanto se afasta na direcção de uma clareira. Quatro músicos tocam uma melodia alegre. Ao aproximar-me, vejo que não são humanos: um tigre, um elefante, um golfinho e o urso. Acho estranho encontrar ali um golfinho, que se oferece para me dar boleia assim que terminar o espectáculo, falando numa língua que não conheço, mas compreendo.

Aceito. Levantamos voo quase de imediato, uma hospedeira oferece-me uma lata de feijão, um copo de água e um livro. Começo a ler as páginas em branco, mas percebo a história que me envolve de uma forma pouco habitual. Deitada na minha cama, tapada com o edredão porque é Inverno e está frio, viro as páginas enquanto como bolachas de chocolate e carrego no acelerador.

A estrada está deserta, conduzo um carro que não é meu e onde sigo sem companhia. Acelero cada vez mais, atinjo uma velocidade que me parece irreal, deveria estar a voar! Oiço a sirene do carro da polícia que me persegue, não conseguindo contudo acompanhar-me. Ao meu lado, no lugar do morto, o Calimero, de casca de ovo na cabeça, queixa-se continuamente. Perco a paciência, abro a porta e empurro-o para fora com o carro em andamento. Oiço apenas um grito cada vez mais afastado. Buzino em resposta. Volto a buzinar, uma e outra vez, e mais outra e ainda outra. Estou a ficar com dores de cabeça mas não paro de buzinar.

Abro os olhos. Encontro-me numa praia deserta, paradisíaca…

12 comentários:

Vício disse...

eu pensava que andava mal... :D

A Loira disse...

Parece-me grave...

cai de costas disse...

Escreveste o texto na parte de trás de alguma árvore, seguramente

Turista disse...

Foi um sonho, verdade?!

The Real Special One disse...

Tulipa Negra on acid... :-)

Tulipa Negra disse...

Vício, pensavas? Eu tenho a certeza!


Vera, a mim também... :P


Cai de costas, escrevi a giz numa torrada. Estava atrás de um vaso com flor, serve?


Manuela, é possível. Real não foi, garanto!
Beijinhos


Real Special One, ácido, cogumelos, overdose de chocolate... alguma coisa foi, sem dúvida! :D

Anónimo disse...

Não sei o que é que andas a tomar, mas também quero...

...além disso não é todos os dias que se amanda o chato do Calimero porta fora de um carro em andamento...
LOL

:)

Tulipa Negra disse...

Ulisses, não queiras saber! :D
Por acaso eu até gostava do Calimero, mas é verdade que é um chato de primeira, sempre a queixar-se.
Beijinhos

Rafeiro Perfumado disse...

Sejá lá o que fumaste, larga imediatamente, antes que acordes com a cabeça dentro do forno!

Tulipa Negra disse...

Rafeiro, eu nem fumo! Mas se conseguir acordar já não é mau...

Unknown disse...

Eu gostei muito! :)

Tulipa Negra disse...

Obrigada, Tulipa!
Beijinhos