É mais ou menos isto, sim

O emigrante, falo por experiência, também não anda com as dores da Pátria às costas. Conseguiria até, dada a confortável distância da separação, olhar com certo desprendimento as peripécias da terra onde nasceu. Conseguiria, digo, mas não o deixam. A gente à sua volta constantemente o interroga, quer explicações, pasma-se, sem ironia, de que Portugal seja Europa.

Perguntam-lhe, perguntam-me, como é possível um processo da Casa Pia, os milhares de milhões que desaparecem dos bancos, a corrupção de cima abaixo, as auto-estradas sem trânsito, os estádios faraónicos, o fausto dos políticos, as desigualdades de um Terceiro Mundo.

Perguntam de boa-fé e sem querer me envergonham, nos envergonham.

Falta dizer que nos vão invejando o Sol e a gastronomia, assim como nós invejamos o calor do Brasil ou de África, com a mesma superioridade de quem dá um elogio a uma criança que conseguiu resolver um exercício de matemática especialmente difícil.