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Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos...
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além vêem? — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
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Poema ao acaso
Devia morrer-se de outra maneira.
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4 comentários:
Esta é a abordagem matemática à questão!!
Beijinhos e boa semana :)
porquê "your"?
o gajo que escreveu isso não sentia o mesmo?
Vício, está muito bem visto! Não te escapa nada! (lol)
Orquídea, contas bem feitinhas, e é verdade e tudo! :)
Vício, o gajo que escreveu isto foi quem inventou a segunda-feira, de certeza! (Não me vais obrigar a explicar a utilização de "your" em inglês, pois não? Afinal ainda hoje é segunda-feira...)
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