9 de fevereiro de 2011

Desespero

A cabeça a latejar, como um martelo a bater lá dentro, com força, ritmado, pum, pum, pum. Os olhos semicerrados, a quererem fechar-se, o esforço por mantê-los abertos acelera o ritmo do martelo. Qualquer som incomoda, até o barulho das teclas perturba e faz doer mais. Lá fora uma ambulância, iiiiiiiioooonnn iiiiiiiooonnnn iiiiiiiioooonnn (já não fazem ti-nó-ni ti-nó-ni como antigamente) e o som parece um punhal a espetar-se no cérebro. No gabinete do lado dois colegas falam exaltados, talvez discutam ou talvez seja só impressão sua, e as vozes parecem mais agudas e aumentam ainda mais o ritmo do martelo pum pum pum. Um rádio começa a tocar uma música acelerada e o martelo acompanha a batida, cada vez mais forte, cada vez mais intenso. A dor torna-se quase insuportável, apetece-lhe desligar tudo e ir dormir, descansar os olhos pesados como chumbo. Se pudesse ao menos fechar os olhos por um bocadinho, só uns minutos, tudo seria melhor. Mas não pode, o telefone toca e aquele som estridente parece ferir-lhe o cérebro, atende o mais rapidamente que consegue e ainda assim a voz do outro lado entra-lhe pelo ouvido e explode dentro da sua cabeça, como uma bomba, pum. Fecha os olhos enquanto fala, acaba por desligar e fica a olhar o ecrã do computador sem conseguir concentrar-se, pum pum pum, o martelo insiste naquele prego que ainda não está bem enterrado no seu cérebro, é preciso mais força, continuar a martelar até o prego estar bem preso e não sair, nunca mais, ficar eternamente enfiado no cérebro e o som que não desaparece e a dor que já nem é dor de tão constante que se tornou pum pum pum.

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