27 de abril de 2010

Liberdade?

Embora tenha nascido ainda durante o Antigo Regime, seis mesinhos antes da Revolução, posso dizer que cresci e vivi sempre em liberdade. A tal que foi conquistada praticamente sem tiros nem derrame de sangue, apenas com cravos enfiados no cano das espingardas. É bonito, simbólico, sem dúvida. Mas o que é isso da liberdade? Fazer e dizer o que queremos, onde, quando e como queremos? Pois, está bem. Contem-me histórias!


Primeiro, são os pais e os professores a impor-nos regras e a impedir-nos disso. Parece que se chama “educação”… Depois, vêm os patrões e os chefes. A troco de um mísero salário, temos de cumprir horários, sujeitar-nos às regras e aos caprichos deles e andar de cara alegre sob pena de sermos acusados de criar mau ambiente de trabalho. E quando nos apetece mandar tudo às urtigas, ir de férias e não voltar... Lembramo-nos da falta que nos faz o dinheirinho ao fim do mês. E voltamos, que remédio. Resignados, contrariados, sob protesto, mas voltamos.
Pensar em mudar de emprego está fora de causa! Da maneira que isto anda, por culpa da crise ou com a desculpa dela, o mais certo é ficarmos dependentes de um subsídio de desemprego que, não tarda mesmo nada, acaba – porque não há trabalhadores suficientes para sustentar uma segurança social praticamente na falência. E, mesmo que tenhamos a sorte de encontrar outro emprego, o problema mantém-se: o chefe será certamente mais um mentecapto, burro que nem uma porta, a ocupar um lugar que é dele por antiguidade ou cunha, mas nunca por competência.

Talvez seja por isso que as apostas no Euromilhões e no Totoloto aumentam de semana para semana e que os casinos estão cheios de gente desesperada, que torra tudo o que tem e (principalmente) o que não tem na esperança vã de enriquecer e poder, realmente, ser livre.

P.S.: Desta vez, foi mesmo muito duro voltar ao trabalho…

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